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Mensagem  Rapharc Sáb 16 Abr 2011, 08:37

Terras raras, um negócio da China?

Artigo de Fernando J. G. Landgraf* no Valor Econômico desta quarta-feira (12).
"Se os árabes têm petróleo, a China tem terras raras". Lendas urbanas
creditam essa frase a Deng Xiao Ping, líder político chinês entre 1978
e 1992. Fato é que hoje a China domina o mercado mundial dessas
"terras raras", como é chamado o conjunto de 17 elementos químicos,
utilizados para aplicação em alta tecnologia, como a dos ímãs que
transformam energia elétrica em energia mecânica e em produtos high
tech como notebooks, telefones celulares, trens-bala, iPods, fibras
óticas e painéis solares.


O mercado dos 17 elementos químicos individualizados é da ordem de US$
5 bilhões anuais e, mais que isso, é estratégico. O significado da
palavra estratégico ficou muito claro em 2010, quando a China anunciou
que imporia cotas de exportação destas terras raras, jogando os preços
para o céu, e, de forma mais chocante, ameaçou não mais entregá-las
para o Japão, depois de uma escaramuça de fronteira marítima.


Tratou-se de um claro perigo à supremacia japonesa em produção de
carros híbridos, cuja tração elétrica baseia-se nos superímãs de
terras raras e objetos de alta tecnologia. O disparo dos preços foi
extremo. Por exemplo, em 30 de março deste ano, o preço do neodímio
metálico, um dos 17 elementos terra rara, foi cotado na Ásia em U$ 200
o quilo, enquanto em janeiro de 2009 estava em R$ 15 o quilo.


O domínio chinês, nesse caso, não se refere somente ao baixo custo da
mão de obra. A China detém mais de 50% das reservas mundiais de terras
raras. Ou melhor, detinha. Em novembro de 2010, a US Geological
Survey, a agência científica dos Estados Unidos, publicou um artigo
que indica que a maior reserva de terras raras é, muita atenção,
brasileira, para a surpresa geral e de todo o mundo. Afinal, o que
grande parte dos pesquisadores brasileiros sabia era que nossa areia
monazítica (tipo de areia que possui uma concentração natural de
minerais pesados) havia acabado. Grande parte dos pesquisadores, mas
não sua totalidade, pois a fonte da informação da US Geological Survey
foi um breve resumo de um brasileiro, nos anais de um Congresso
Internacional de Geologia de 1996.


Nos anos 1980-1990 o Brasil investiu na cadeia, mas os baixos preços
chineses inviabilizaram todas as iniciativas Especialistas já
avaliaram diversos locais em que ocorrem terras raras no Brasil. Estão
na cidade mineira de Araxá, na goiana Catalão, no Paraná, na Bahia...
e a lista deve crescer. Usando a terminologia técnica, é possível
afirmar que "recursos minerais" o Brasil tem, sem dúvida. Mas a
questão é saber se são "reservas minerais". Explico: é preciso
verificar se a concentração de terras raras é economicamente viável,
ou seja, se a operação de separar o mineral que contém as terras raras
dos minerais restantes é válida economicamente.


Agora em 2011, telefones em Brasília tocam pedindo explicações e
posicionamentos. Com os preços onde estão hoje, o mundo todo se anima
e revê as possibilidades. Americanos anunciam investimentos de US$ 100
milhões para reativar sua maior mina. Australianos falam de números
maiores ainda. E o Brasil... sobra alguma chance para o Brasil?


Normalizados os preços, é possível viabilizar no território brasileiro
empreendimentos de mineração que produzam concentrados de terras
raras. Mas isso vale pouco. Separar as terras raras em cada um dos
elementos agrega bastante valor, mas exige uma tecnologia química
especial, resinas importadas... enfim, custa muito caro. Vale à pena?


A estratégia chinesa foi a de ocupar frações cada vez maiores da
cadeia produtiva. Hoje a China não quer mais exportar superimãs, quer
exportar motores elétricos que os usam. Aqui se configura uma
oportunidade particular e de extrema relevância para o Brasil, que é
um dos maiores produtores de motores elétricos do mundo.


Atualmente o Brasil é forte nos motores convencionais, sem ímãs, mas
os geradores movidos a vento e a motorização elétrica de veículos,
baseados em superimãs, prometem enorme expansão desse mercado.
Desenvolver as tecnologias da cadeia produtiva das terras raras coloca
grandes desafios para a tecnologia nacional. E isso é ótimo. Dentre
algumas iniciativas nessa direção já se destaca uma articulação entre
a Fundação Certi, de Santa Catarina, o Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT), de São Paulo, e o Centro de Tecnologia Mineral
(Cetem), do Rio de Janeiro. São três dos melhores órgãos de pesquisa
nacional, unidos em torno das terras raras.


É preciso levar em conta que há cerca de 30 anos - nos anos 1980-1990
- o Brasil investiu nessa cadeia, mas os baixos preços chineses
inviabilizaram todas as iniciativas. Um tradicional fabricante
brasileiro de ímãs investiu nos superimãs de terras raras, mas não
resistiu à abertura dos mercados e sucumbiu no ano de 1994. Hoje, as
equipes que trabalharam com esse tema em dezenas de grupos de pesquisa
brasileiros estão praticamente desfeitas, decidiram assumir outros
rumos. É possível retomar o projeto, mas é necessário um plano de mais
longo prazo, resistente às intempéries do mercado e das estratégias de
outras nações. É hora de agir, de maneira consistente.


*Professor associado da Escola Politécnica (Poli) da USP e diretor de
Inovação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)

Texto de Marcelo Honório
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